de José Caravela e António Maria Casquinha,
mortos em Montemor-o-Novo pela Guarda)
Aqui
nesta planície de sol suado
dois homens desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui
onde agora vejo crescer uma seara
de espigas pretas.
Quando os dois camponeses desceram às covas,
ante os punhos cerrados de todos nós,
chorei!
Sim, chorei
sentindo nos olhos a voz
do que há de mais profundo
nas raizes dos homens e das flores
a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores
- almas de frio fundo.
Digam-me lá:
para que serviria ser poeta
se não chorasse
publicamente diante do mundo?
José Gomes Ferreira
A morte saiu à rua em 27 de Setembro de 1979. A morte entrou pelos campos de Montemor-o-Novo. José Geraldo (Caravela) e António Maria Casquinha foram assassinados a tiro, procurando impedir que os agrários, apoiados pelo governo e pela GNR, roubassem uma manada de bovinos.
Até hoje, ninguém foi julgado por estes hediondos crimes.
Caravela e Casquinha morreram porque acreditavam no futuro, na Reforma Agrária.
Lutaram para que o seu Alentejo não fosse terra de horizontes fechados.